Eram os últimos anos da década de 70. Até então, não havia registro de qualquer trabalho de conservação marinha no Brasil. Mas as tartarugas já integravam a lista das espécies em risco de extinção. Estavam desaparecendo rapidamente, por causa da captura incidental em atividades de pesca, da matança das fêmeas e da coleta dos ovos na praia.
No sul do Brasil, um grupo de estudantes cursava os últimos anos da Faculdade de Oceanografia da Universidade Federal de Rio Grande e organizava expedições a praias desertas e distantes, de preferência aonde ninguém houvesse chegado antes. O importante era desbravar, descobrir, pesquisar, conhecer o litoral do Brasil e as ilhas oceânicas. Ao mesmo tempo, o grupo fazia pesquisa dirigida, com o apoio do Museu Oceanográfico de Rio Grande.
Nos dias e noites em que ficaram no Atol das Rocas, ao amanhecer encontravam rastros e muita areia remexida na praia. Mas não se davam conta de que a mudança no cenário era produzida pelas tartarugas que subiam à praia para desovar, durante a madrugada. Em uma noite dessas, os pescadores que acompanhavam os estudantes mataram onze tartarugas de uma só vez. A imagem foi chocante para os que assistiram à cena, devidamente fotografada.
As expedições acabaram servindo de alerta para a necessidade urgente de proteção do ecossistema marinho. Foi assim que a Faculdade de Oceanografia, onde ainda não se falava em conservação, acabou formando uma geração pioneira de ambientalistas no país, pois todos passaram a se dedicar profissionalmente à conservação marinha
O QUE FAZ O PROJETO
A missão do Projeto Tamar é proteger as tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil. Com o tempo, porém, tornou-se evidente que o trabalho não poderia ficar restrito às tartarugas, pois uma das chaves para o sucesso desta missão seria o apoio ao desenvolvimento das comunidades costeiras, de forma a oferecer alternativas econômicas que amenizassem a questão social, reduzindo assim a pressão humana sobre as tartarugas marinhas.
As atividades são organizadas a partir de três linhas de ação: conservação e pesquisa aplicada, educação ambiental e desenvolvimento local sustentável. Desde o início, o Projeto desenvolve técnicas pioneiras de conservação e desenvolvimento comunitário, adequadas às realidades de cada uma das regiões onde mantém suas bases.
Ao proteger as tartarugas, promove também a conservação dos ecossistemas marinho e costeiro e o desenvolvimento sustentável das comunidades - estratégia de conservação conhecida como espécie-bandeira ou espécie-guarda-chuva.
Além das atividades de conservação dos ecossistemas marinhos, o Tamar se destaca também pelo trabalho de pesquisa, aumentando o nível de conhecimento sobre as populações de tartarugas marinhas. Os resultados obtidos são apresentados em congressos nacionais e internacionais, simpósios e workshops, e veiculados em jornais e revistas científicos.
Por meio de convênios e protocolos de cooperação técnico-científico com universidades brasileiras e estrangeiras, o Tamar realiza programas de estudos prioritários para conhecer melhor o ciclo de vida das tartarugas marinhas. Entre eles destacam-se telemetria por satélite e padrões genéticos em áreas de desova e não reprodutivas, além de pesquisa de medidas mitigadoras para diminuir a captura incidental na pesca.
Soltura nacional de filhotes marca os 30 anos do Tamar
Um dos mais importantes eventos do ano, para marcar os 30 anos do Tamar, aconteceu no último sábado, 10/4, em todas as 23 bases do Projeto no país, em nove Estados brasileiros, do Ceará a Santa Catarina. Foi a soltura simbólica do filhote 10 milhões, marca alcançada ao longo desta caminhada de recuperação da populações das cinco espécies de tartarugas marinhas que ocorrem no Brasil e que ainda se encontram ameaçadas de extinção, em diferentes níveis de perigo. Nas bases localizadas em áreas de alimentação, onde não se registram desovas, e mistas (alimentação e reprodução), o Tamar devolveu ao mar exemplares de tartarugas juvenis e adultas, socorridas e reabilitados pelas equipes do Projeto.
O oceanógrafo Guy Marcovaldi, coordenador nacional do Projeto Tamar/ICMBio, patrocinado nacionalmente pela Petrobras, chama esse evento de “o dia da volta”. Lembra que as tartarugas marinhas nascidas sob a proteção do Tamar, há 30 anos, quando o Projeto foi criado, só agora atingiram a maturidade sexual e estão retornando à praia onde nasceram para depositar sua primeira desova. Assim, os filhotes que nesta temporada seguem para o mar representam a segunda geração protegida pelo Tamar. “Os primeiros foram como filhos para todas as equipes envolvidas nos esforços de conservação. Estes, que nascem agora, são os nossos netos”, completa Guy Marcovaldi.
EU VISITEI E VALEU A PENA!!
TANQUE DAS TARTARUGAS
Esse tanque, agora com 10m² para os animais nadarem, abriga as grandes tartarugas de pente, também conhecidas como "verdadeiras". A cenografia do ambiente imita o hobitat natural das tartarugas, que habitam os costões rochosos e bancos de areia da plataforma continental, até uma profundidade de 18m.
O Aquário Municipal de Santos é o único no país a expor as tartarugas de pente, animais que foram muito caçados por causa do seu casco, que é matéria-prima de artefatos como pentes e armação de óculos.
UM ABRAÇO.