terça-feira, 4 de junho de 2013
O PAPEL DO LACTATO NO EXERCÍCIO
O
lactato é produzido pelo organismo após a queima da glicose
(glicólise), para o fornecimento de energia sem a presença de
oxigênio (metabolismo anaeróbico láctico). Em atividades físicas
de longa duração, o suprimento de oxigênio nem sempre é
suficiente. O organismo busca esta energia em fontes alternativas,
produzindo o lactato. O acúmulo desta substância nos músculos pode
gerar uma hiperacidez, que causa dor e desconforto logo após o
exercício. Assim, a determinação da concentração sanguínea do
lactato permite avaliar indiretamente a acidose metabólica do
exercício, sendo uma das ferramentas diagnósticas utilizadas pela
Fisiologia do Exercício.
A dosagem do lactato permite avaliar a
capacidade de exercício e monitorar a intensidade de treinamento dos
atletas. Isso pode ser feito em exercícios de cargas crescentes
durante o Check-up Fitness ou após o término de um treinamento
específico ou de um exercício realizado em competição. A dosagem
sanguínea do lactato é uma forma prática de se obter uma avaliação
do metabolismo do lactato e do limiar anaeróbico do atleta. Para se
entender como funciona esse teste, precisamos antes entender a
produção de energia no músculo e sua relação com a produção do
lactato.
A
produção de energia para a realização de um exercício físico se
dá a partir da “quebra” de uma molécula de ATP (adenosina
trifosfato), que funciona como o combustível para a contração
muscular. Existem 3 mecanismos principais para produção dessa
energia:
1.
Sistema do metabolismo anaeróbico aláctico (sistema
ATP-creatina-fosfato), ou seja, sem a produção de lactato.
2. Sistema do metabolismo anaeróbico láctico (glicólise), ou seja, que leva à produção do lactato.
3. Sistema de metabolismo aeróbico, também sem a produção de lactato.
No
metabolismo anaeróbico láctico, o lactato é o produto final da
degradação da molécula de glicose (açúcar) utilizada para a
produção de energia (ATP). Isso ocorre porque não há oxigênio
(O2) suficiente para que ocorra o sistema de metabolismo aeróbico.
Na
realidade, o metabolismo anaeróbico láctico, com a produção do
lactato, é o principal sistema de produção de energia que é
utilizado em atividades físicas que têm duração relativamente
curta, de 30 segundos a 90 segundos, como por exemplo em corridas de
400 metros, provas de natação de 200 metros, no futebol, no tênis,
etc. O lactato produzido no músculo vai para a corrente sanguínea e
daí para o fígado, onde é removido do sangue e metabolizado.
A
concentração de lactato no sangue é de aproximadamente 1,0 mmol/L
a 1,8 mmol/L, em repouso e durante o exercício leve, quando existe
equilíbrio entre sua produção muscular e sua remoção hepática.
À medida que o exercício físico se intensifica, ocorre um
desequilíbrio entre a produção e remoção, com conseqüente
acúmulo de lactato no sangue e aumento de sua concentração. Esse
aumento da concentração do lactato no sangue pode ser utilizado
para a detecção de um índice de limitação funcional, o limiar
anaeróbico,
que tem grande utilidade no treinamento desportivo.
A
detecção desse índice de limitação funcional é feita com a
realização de um exercício de cargas crescentes, e baseia-se na
medida da concentração sanguínea do lactato: coletas seriadas de
sangue são feitas para se determinar o limiar
anaeróbico,
que ocorre quando a concentração do lactato
excede o valor de 4,0 mmol/L.
Dessa forma, estabelece-se como limiar anaeróbico a carga ou
intensidade de esforço imediatamente anterior àquela em que a
concentração de lactato excede esse valor. O treinamento de
"endurance" diminui a concentração sanguínea de lactato
e com isso retarda a chegada ao limiar anaeróbico, o que indica a
melhora da performance do atleta. É importante ressaltar que
concentrações de lactato acima de 4,0 mmol/L devem ser evitadas no
treinamento de “endurance”.
O
desenvolvimento de novas tecnologias para a dosagem do lactato,
denominadas em conjunto de teste laboratorial remoto (“point-of-care
testing”), permite-nos, atualmente, fazer a dosagem da concentração
sanguínea do lactato em campo, de forma precisa e com uma pequena
gota de sangue obtida da ponta de um dos dedos do atleta. Além
disso, o resultado é obtido rapidamente, em poucos minutos. Isso
facilita muito a realização desse teste, a rapidez de sua
interpretação e a tomada de decisão, ampliando seu uso na Medicina
Esportiva.
Assim,
a dosagem do lactato pode trazer importante informação para o
atleta e seu treinador, tanto quanto à situação atual de
treinamento e “performance” do atleta, como com relação às
demandas metabólicas do organismo e sua capacidade de suportar
estímulos de exercícios especificamente selecionados. A avaliação
do “fitness” individual e das condições de treinamento, que
dependem desse condicionamento físico, são uma área de interesse
cada vez maior dentro dos programas de treinamento físico.
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